Audiência coloca pescadores profissionais e esportivos em pé de guerra
Autor do texto, o deputado estadual - Neno Razuk (PL), decidiu continuar com a tramitação da proposta na Assembleia

CAMPO GRANDE NEWS
Foram 4h40 de discussões acaloradas entre deputados e uma plateia composta por pescadores profissionais, amadores e esportivos. Representantes das 14 colônias de pesca do Estado vieram representar os mais de 8 mil trabalhadores que vivem da pesca e alegam não ter sido ouvidos pelo autor da proposta, o deputado estadual Roberto Razuk (PL), o Neno Razuk.
Parte das caravanas ficou do lado de fora do plenário, que teve a plateia dividida entre o grupo que apoiava o texto e o que o rechaçava. Quem ficou do lado de fora lamentou a falta de oportunidade de falar.
Parte das caravanas das 14 colônias de pesca do Estado não entrou no plenário (FOTO - GABRIELA COUTO)
“É uma audiência pública covarde, porque tivemos nossos direitos desrespeitados. Somos 8 mil pescadores e os esportivos são cerca de 500. Eles colocaram a gente do lado de fora, sendo que a divisão está desigual. Sai de Ladário 4h para ficar do lado de fora. Temos direitos iguais. Só está lá dentro falando quem não entende de nada. Estamos decepcionados e nos sentimos humilhados”,
lamentou Elis Regina Severino, fundadora e presidente da Colônia Z 14.
Ela afirma que nunca foi ouvida pelo autor do projeto ou sua equipe. “Mais uma vez nós somos tratados como nada na sociedade. Como se fôssemos um lixo, um erro. Não somos. Nós que colocamos pescado na mesa do povo. Nós merecemos respeito. Viemos para ser ouvidos e não ouvir. Eles estão falando só inverdades e não conhecem a verdade do território. Se esse projeto for aprovado, vai ser uma tragédia, uma lástima. Porque 70% dos pescadores são semianalfabetos. Se for para fechar a pesca, tem que fechar para todos”, enfatizou.
O diretor do Ecoa (Ecologia e Ação), André Luiz Siqueira, revelou surpresa com o conteúdo do projeto de lei. “Fomos surpreendidos. Porque no final do ano passado, a partir do momento que o governador se comprometeu a reativar o Conpesca (Conselho Estadual de Pesca) depois de 20 anos e o fez, nós tínhamos uma pauta de prioridades e queríamos corrigir equívocos graves de decretos dos governos passados que influenciam a vida dessas pessoas. Fomos surpreendidos por uma lei que foi muito mal feita, como a de Mato Grosso, que está no STF (Supremo Tribunal Federal) sendo questionada”, enfatizou.
O representante da ONG elencou a falta de proximidade do deputado com o assunto e o desconhecimento dos impactos na vida dos pescadores profissionais.
“Um deputado que não tem história com a categoria, com a conservação das duas bacias, não entendeu o contexto e apresenta uma coisa esquizofrênica. Não entendo como querem excluir uma classe trabalhadora, que são guardiões do rio, são bioindicadores importantes. O estado nunca se moveu para fazer ciência nenhuma com o assunto. Agora o projeto de lei vem e mexe com a vida de milhares de famílias, isso é muito pesado e muito profundo”, disparou.
COMENTÁRIOS